Agendei te esquecer...

Maio já está no final. Recordo-me de que agendei te esquecer em Maio retrasado e os resultados foram frustrantes.
Ainda adiciono os passos com a solidão e divido a diferença de nossas sombras. Finjo redescobrir cada canto da casa, para não parecer insana em andar ansiosamente pelo breu que cega esses cômodos vazios.
Dissolvo minhas lembranças em um copo submerso de saudade e acabo embriagada com a sua voz, seu toque e seu cheiro. Atiro-me sem culpa, de braços abertos para o nada e sinto o veludo grosseiro do sofá esfolar minha face.
Ouço passos embalando algumas notas musicais em um ritmo lento e gracioso. Tateio, no limite dos meus braços, as sombras de formas arredondadas amontoadas no canto. Suspeito ser as almofadas cor de amêndoa. Então noto que ela ainda não veio deitar-se.
Lá fora, as folhas chacoalham a favor do vento e, aqui, a solidão continua a dançar entre um tapete e outro da casa.
De repente os passos aproximam-se da sala, ela passa por mim e, como um sussurro, anuncia uma nova noite de insônia.

Além da neblina...

Enquanto as folhas dançam o ruído de um inverno ríspido, vou nutrindo o descompasso da poeira, no percurso de uma trilha qualquer. Uma trilha esquecida, já que, lentamente, está perdendo a privacidade dos seus limites pela grama que, obstinada, insiste em crescer entre as beiradas de um cimento antigo.
Em contramão a neblina se exibe graciosamente por alguns bancos abandonados, deixando uma camada esbranquiçada sob a grama mal cuidada.
Vou seguindo uma quase trilha ao sabor do tempo e, no embalo desse vento cinzento, desenhando um ar colorido para além da bruma densa, que limita a visão dos meus olhos.
Tento arquitetar algum traço jovial que pode haver do lado oposto à densidade. E quem sabe, por um grande acaso, eu encontre você perdido no verde saudável da grama e abaixo das folhas posicionadas entre os galhos. A ansiedade grita impaciente e a pressa me faz correr. Correr depressa para descobrir o que há além da neblina.

Não deu tempo de fechar os olhos...

A madrugada parece ter cochilado e as horas aqui não passam. Tudo escuro e nada ouço além do tic tac impaciente do único relógio da casa. Perdida em meus pensamentos incertos retorno o tempo e até avanço alguns anos. Refaço ilusões perdidas e arquiteto outras expectativas.
Não suporto fechar os olhos. Ignoro as cobertas frias e nada parece mais animador que admirar o vazio pela janela. Não há pessoas, não há cães, não há luzes e não há você no asfalto seco lá fora.
Surpreendo-me com o rugido asco que invade o ambiente e com um sabor amargo roça minha nuca. Fujo para debaixo das cobertas novamente. Eu não quero de volta a companhia da solidão, que não parece se importar com a minha rejeição.
Escondo-me, sem sucesso, por entre os lençóis e, logo, ela me alcança. Resta-me, então, acomodar o rosto no travesseiro e encarar de frente a solidão.
Juntas, tentamos decifrar o final de algumas histórias que não nasceram para terem finais.
Às quatro da manhã ainda alimento alguma memória e volto com desconfiança até você. E já não encontro mais os livros no lugar.
Penso se eu ainda estivesse aí, você cantaria uma canção para eu dormir? Mudaria a estante de lugar ou me contaria de novo uma história inventada?
Eu sei, se estivesse aí, o timbre das músicas seriam outros, não existiria o tic tac do relógio e o fim da história teria outro ritmo.
Mas eu quis perder o caminho de volta. Foi proposital quando fechei a porta e joguei a chave do outro lado da cidade.
E, quando resolvo me conformar com sua ausência, o dia amanhece e percebo que não deu tempo de fechar os olhos e dormir.

Despedidas são incompreensíveis...

Não consigo aprender a soletrar um adeus ao pé do ouvido e é tão difícil aceitar o último abraço.
Desisti de tentar compreender essas despedidas que alimentam minha rotina.
Que espécie de dor é esta que sufoca a minha voz e limita os gestos após um último aceno?
Eu não posso compreender estes sorrisos embaraçados e procuro ignorar o sabor ácido que transborda dos olhos e encharcam minha face.
Quero tudo daqui e de lá, juntos em um só tempo.
Quero o cheiro doce daqui e os livros empoeirados de lá.
Ficar aqui é viver sem ter planos e tomar chuva sem sentir frio. Mas, melhor ainda é ir embora e poder voltar quando eu quiser.
Quero carregar o carinho que preenche o inverno daqui, enquanto vôo a liberdade de lá.
Queria poder dar férias aos ponteiros do relógio, porque, quem sabe assim se perdiam de mim e se esqueceriam de exclamar que é chegada a hora de partir.
Mas eu ainda não encontrei as chaves que abrem aquele rústico e velho relógio pendurado no centro da parede.
Agora, os ponteiros alcançaram a minha hora, preciso partir. Eu vou, mas ainda volto.

Eu sempre quis!

Tão longe e tão perto.
Persigo as horas através do disfarce denso das noites, seguindo a poeira de alguns rastros que julgava ser seus.
Me esforcei, sem sucesso, para esquecer os seus traços de garoto.
Sua voz, seu toque e nosso desejo ignoraram os códigos e eu quis ainda mais você.
Confesso, basta esse sorriso escondido no canto da boca para eu esquecer os erros e ignorar minha resistência a você.
Mas, pensando melhor, dane-se os outros. Não fico bem sem você aqui. Preciso beijar seus olhos e olhar sua boca.
Você me trouxe algumas pistas para ser feliz.
Então, arraste as traduções para longe de mim e oculte as normas daqui.
Respiro o tempo à procura de palavras para decifrar você, não penso em nada.
Você desconcentra o foco das minhas ideias e me faz trocar as letras.
É diferente, meus olhos decifram apenas seus traços ingênuos e meu silêncio grita pelo timbre da sua voz.
Cansei de simular, eu quero você aqui. Eu sempre quis.

Siga as setas

Siga aquelas setas. Vem comigo.
Deixa eu te arrastar do obscuro que invade este lugar frio e medíocre.
Toque minha mão, entrelace seus dedos aos meus e vamos para o outro lado, onde a felicidade promete saciar o prazer e alimentar o tédio das horas.
Deixa.
Deixa-me sussurrar algumas palavras e confessar a você meus receios. E vai descobrir que meu maior medo é o abraço irônico da saudade que, com um sorriso zombador, ameaça os meus dias.
Deixe-me dar asas a ousadia, te roubar um sorriso modesto, ignorar as etiquetas e, salivando um beijo teu, provar a minha vontade de você.
Deixe as promessas para amanhã de manhã e vamos ascender alguns sonhos roubados.
Não me ensine o caminho de volta, quero me afogar nas leis da liberdade e desafiar as teorias que sustentam a minha coragem.
Perca o medo destes trilhos incertos e dos trajes improvisados.
Chegou a hora de arriscar um salto e pular do trem, depois, as horas ameaçam pesar a consciência e pode ser tarde demais.
Deixe tudo porque eu não vou sem você.

Reinventei você pela estrada

A neblina gélida alcança a constância da velocidade e fere o ruído dos pneus com a excitabilidade de um toque.
As gotas que se jogam contra o vidro do carro, aos poucos, vão delineando partículas de gelo e ganhando novas formas, pequenos flocos de neve brincando entre alguns galhos secos.
Aqui, ausente das suas ilusões eu prossigo pelas curvas. Peguei a estrada há muito tempo, quando descobri que morrer por amor estava fora de moda.
Mas agora, no silêncio de uma longa estrada coberta pelo gelo, delineei seus traços ingênuos em minha mente. Permiti-me errar por meio segundo, ao pensar em você de novo.
Em segredo, eu desejei um beijo roubado e um sorriso emprestado. Sua presença e seu calor junto ao meu.
Foi bom reinventar seu toque. Eu quis e a vontade já passou.

Não demore...

A claridade entre as frestas da janela me despertou cedo demais para a rotina e brevemente tarde pra você. Desci os degraus da escada com os passos indiferentes, te procurando pelos cantos da sala. E só o que vi, foi sua jaqueta velha e surrada jogada entre os jornais espalhados e livros amontoados. Caminhei até a cozinha, com a preguiça sussurrando palavras frias ao pé do ouvido. Com os pés descalço dançando por este piso frio, o caminho até uma xícara de chá pareceu infinito, então, aproveitei esse momento para pensar que na verdade eu não me importo se não tenho você aqui, agora. Ao tempo da madrugada, inalei seu cheiro e senti seu toque, enquanto lá fora a lua sorriu pra nós, apenas isso me basta.
A surpresa foi encontrar o chá ainda morno e ao lado, sob a mesa, um bilhete dobrado em dois, com pequenas palavras tímidas. Só então, quando decifrei o 'te amo' do papel, me dei conta que sua jaqueta no canto da sala seria apenas um disfarce para você voltar aqui. E hoje, por você, eu deixo a porta aberta. Não demore.

Foge comigo?

Aqui, longe da balbúrdia caótica e das influências alienadas do mundo lá fora, me sinto tão livre, tão liberta, tão viva e tão impulsiva. Sinto-me segura para esquecer o resto. Essa paz absoluta me consome sem medir intensidade. Pode acreditar, estou respirando aquele ar que delineava meu velho sonho. Aquele que você desacreditou.
Danço sob uma chuva quente de primavera e não tenho relógio no pulso, para não sentir o tempo passar por mim. Vem você também, deixe o ritmo dessas gotas molhadas tocar seu corpo. Esquece esse roteiro que te promete uma vida sem defeitos. Olhe no brilho profundo dos meus olhos e tente ver minha felicidade. Tente sentir comigo esse momento bom. Dê-me sua mão, ainda temos tempo. Está fora de moda resistir a tanto, escute a minha voz e deixe-me ensinar você a dançar e esquecer o mundo. Foge comigo agora.

Cansaço

Eu cansei. Eu cansei da sensatez daqui. Cansei da rotina daí e das expressões que me pressionam. Eu cansei de olhar no espelho e ver um sorriso programado para fingir que tudo é perfeito. Cansei de esconder esfinges e abafar o choro.
Estou exausta de camuflar meu sentimentos e domar a saudade.Eu cansei de fugir de casa, de brigar com a madrugada e tentar, sem sucesso, espantar a insônia. Eu cansei de procurar sua inocência em outras faces e desisti de comparar suas promessas com estas flores que surgiram na minha porta, ignorei-as no canto da sala sem nem me importar em decifrar as letras do cartão. Sem as cores de antes e o aroma inconfundível as flores não tem mais valor.
Chega! Eu cansei de procurar você nas curvas e encarar os rostos que passam por mim. Afinal, ninguém se parece a você e eu sei que essa saudade enferrujada já não acordará mais. Eu me perco e agora é já tarde aqui, a lua acaba de ingressar para mais um expediente. Resta-me deitar ao lado da saudade e deixar a noite nos levar. E que um dia, o sol nos desperte bem cedo.

Selinhos =D

Meus agradecimentos a:
Jade Cavalhieri [
Pateticamente Incorreta ]
Drika Sales [
- In my world.⋆ ]

adorei! =D


O ontem já partiu

O ontem já é saudade. O amanhã esperança.
Eu troquei a última noite pelo dia, com uma insônia forjada. Aproveitei meus olhos abertos e sacudi tudo aqui, expulsei a poeira para fora de casa. Troquei minha velha calça rasgada, joguei fora suas cartas, inovei o ritmo da música e o timbre das minhas palavras.
Descobri que meus sonhos ainda gritam e que bons amigos ainda vivem por mim. Agora posso manter-me ausente das suas promessas medíocres.

Faz sol aqui e lá fora o breu da noite se mistura aos ruídos de uma coruja.
Eu renovo o giz de cera colorido da escrivaninha, para não esquecer de colorir os meus dias E descobri que o contraste desse colorido quem nutri são meus amigos.
Então, eu posso enganar as horas e suportar a dor, posso trocar tudo e reaprender, com a alma em pedaços, a viver sem meus maiores prazeres. Mas, não suportaria que tirassem de mim a tonalidade dos meus dias, eu não suportaria viver sem grandes amizades.

Novo selo =D

Meus agradecimentos a Rodolpho Padovani - http://aartedeumsorriso.blogspot.com/

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defeitos: ansiedade e orgulho
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