Enquanto as últimas estrelas ensaiavam os passos finais para entrar em cena, a noite chegava para cumprir os desejos repetitivos de uma rotina exigente.
Apressadamente ela ia terminando de tecer, com um laço em tons de nude, a segunda parte de uma trança curta que, delicadamente, era sobreposta sobre os ombros.
Os detalhes do vestido rendado dançavam em harmonia com a delicadeza de uma face rosada.
Os olhos eram grandes no escuro e, deles, destacava uma ansiedade incontida.
A respiração do vento noturno entrava pelas frestas da janela e, sem pedir licença, acariciava de leve os traços de boneca.
Era chegada a hora.
Do alto da estante descia graciosa a garota de pano e, pelo centro da sala, desfilava encanto, com gestos maquiados de realidade.
Sem olhar para traz, partiu em busca daquele amor de contos.
Porque bonecas de pano também amam.