O relógio antigo, no centro da parede já descorada, desobedeceu a temporada de férias e correu pelo tempo.
O tempo chegou e não ficou nem para uma xícara de chá quente. E o hoje já era ontem.
Com um sorriso feito de retalhos em tons de rosé, ela não esperava mais cerrar os olhos para sonhar de novo. Agora, já sonhava de olhos abertos, que era para se realizar logo. Já que o tempo andava de mãos cerradas com a pressa.
E o tempo não esperou mesmo.
Parecia ontem. Ainda cedo ela encaixotava tudo, com um sorriso desesperado estampando a inocência de uma beleza curiosa.
Prometeu ao vento ser forte nas quatro estações do ano e, sem pensar, partiu. Deixando para trás um afeto conhecido, uma amizade antiga e algumas promessas saturadas.
Enquanto outros se espantavam com indiferença e audácia, ela ria e, de braços dados com a liberdade, virou a próxima esquina sem querer olhar pra trás.
Lá fora, os limites não foram medidos e as vontades não ficaram para depois. O desejo sempre morou ao lado, atentando a insegurança e fazendo pirraça com a loucura, enquanto a coragem se mostrava uma amante fiel. Até a cura do tédio, ouvi dizer que ela reinventou.
E hoje, mal acostumada, ela já não compreende as normas como antes e as emoções, agora, são medidas pelo instantâneo.
O tempo continuou correndo, com ou sem pilhas nos ponteiros. Simples assim.
Entre uma estação e outra, ela só tentou deixar o bonito, ainda mais lindo, jogando fora as regras de sobrevivência. Porque a vida sem roteiros se tornou um retrato único, dessa rotina descabelada.