É tempo de...


Ocultas no fundo de uma caixa de memórias e carregadas de curiosidade, algumas letras entorpecidas refazem o sentido dos velhos cartões, enfeitados com um idioma delicado.

Um idioma pronunciado somente em finais de ano.
Palavras maquiadas de esperança e desejo que, entre uma frase outra, vão encorpando a capa e o centro de pequenos e grandes bilhetes.
Com um sabor quente de saudade e delineados por uma demasia engraçada, os cartões musicais de finais de ano abraçam o ambiente com um timbre baixo e afinado.
É chegada a hora.
O fim de ano anuncia e os cartões respondem.
É tempo de filtrar a singeleza da vida, reciclar as amizades e trocar um amor desbotado.
É chegada a hora de frear a pressa, desacelerar o arrependimento e, adormecendo os medos, selar um compromisso com o acaso.
É o momento de se concentrar para entrar em cena.
O ano novo já ensaia os detalhes finais de um roteiro desconhecido.
Agora, o grande desafio é abafar as vozes da ansiedade e sentir o pulsar firme da concentração.

Vaidosas e indiscretas...


Derrubando um charme agudo pelo caminho ela surge, graciosa em seus detalhes e delicada em seus contornos.
Desfila uma beleza esperta sob a folhagem verde bandeira de um jardim qualquer.
Seus passos certeiros e o pouso ágil parecem ensaiados.
Sem pressa e disfarce move uma exuberância vaidosa, sob os costumeiros mantos em tom de escarlate. O visual, trabalhado com exatidão de formas, exibe uma maquiagem impecável, delineadas por pequenas bolinhas pretas.
Belas e vaidosas seguem o amanhã, como turistas por jardins desconhecidos, derrubando traços de meiguice por onde passam.
Porque joaninhas são assim, simples e indiscretas.

Levo comigo o apego...


Ao lado da meia noite deixo para traz o desejo e levo daqui a saudade, embrulhada em um papel pardo envelhecido.

Os faróis já correm quente, de um extremo ao outro da avenida.
O medo vai seguindo a rota do vento, acariciando os fios de cabelo solto, que de passo em passo, brincam de pisque-esconde pela brisa noturna.
Agora, as pilhas da lanterna já piscam lentamente de cansaço e me pedem pra voltar.
O silêncio vai carregando a afeição para longe e a noite se arrasta pelas ruas vazias de gente, acariciando algumas lágrimas desobedientes.
Em passos lentos e largos vou filtrando os sons da noite, na tentativa de encontrar um último adeus, um só ruído, antes que a lanterna seja tomada pela cegueira.
Antes que a noite acorde, o vento mude a rota e o tempo se vá, derrubando pelo caminho as saudades de um amor.

Bonecas de pano também amam...


Enquanto as últimas estrelas ensaiavam os passos finais para entrar em cena, a noite chegava para cumprir os desejos repetitivos de uma rotina exigente.
Apressadamente ela ia terminando de tecer, com um laço em tons de nude, a segunda parte de uma trança curta que, delicadamente, era sobreposta sobre os ombros.
Os detalhes do vestido rendado dançavam em harmonia com a delicadeza de uma face rosada.
Os olhos eram grandes no escuro e, deles, destacava uma ansiedade incontida.
A respiração do vento noturno entrava pelas frestas da janela e, sem pedir licença, acariciava de leve os traços de boneca.
Era chegada a hora.
Do alto da estante descia graciosa a garota de pano e, pelo centro da sala, desfilava encanto, com gestos maquiados de realidade.
Sem olhar para traz, partiu em busca daquele amor de contos.
Porque bonecas de pano também amam.

O medo de amar estava fora de moda...


Ela sempre soube, mas preferiu ignorar os antigos manuais.

Rasgou os argumentos de uma solidão conhecida e maquiou outros significados para ir além.
Relevou algumas descrenças e desmascarou as ilusões.
O plano parecia dar certo e torná-lo perigoso era empolgante.
Enquanto desafiava a loucura, dissimulando os desejos, outros diziam que ela havia perdido a noção do risco.
Aprendeu o descompasso de um ritmo desconhecido e atormentou o silêncio da tristeza com um riso incontido.
Jogou com algumas cartas camufladas e intimidou as razões avessas, seduzindo o vazio de uma noite monótona.
O que ela não havia notado, ainda, é que o medo de amar estava fora de moda.
A solidão já não voltara pra casa há dias e as letras de uma canção antiga tinham, agora, pronuncias de amor.
Era tarde demais para sair em busca de outras explicações.
Ela estava apaixonada.

Desprenda seu apreço daqui...


A poeira fina vai, pela contagem do tempo, sendo derrotada pela gravidade e desaba com leveza no assoalho escuro e largo.
Sem expressão meus olhos nus se jogam contra as caixas no canto de uma poltrona antiga. E na procura de argumentos sensatos, o descaso grita palavras indecifráveis enquanto a veracidade sufoca algumas lágrimas. Sem entender, o lamento arrisca suas forças pelas linhas da face.
Só queria esquecer as prorrogações, as frases bem elaboradas e o flerte perfeito. Só assim seria possível reorganizar os sentidos invertidos.
Observe indiscretamente estes últimos gestos e não pronuncie palavras em timbre que os outros possam ouvir.
A poeira já descansa como criança e tudo parece querer voltar para a versão habitual da rotina.
Aumente o volume para que a razão ganhe voz e desprenda seu apreço pela minha graça.
As caixas já estão feitas.
Leve-as daqui e, em silêncio, sinta o toque de um último beijo.

Letras sem rima...


Tarde demais para ajustes de última hora.
A noite já segue mapeada pelas luzes e o silêncio embala algumas danças de lá.
Os anseios já não são as únicas atrações daqui, agora, noções controvertidas entram sem pedir licença.
Coloco a pressa para dormir e rasgo a noite distraindo a saudade.
Lá fora, a lua é cheia e não é difícil perceber que eu tento não deixar sombras no asfalto úmido.
Eu finjo ter calma nas curvas e distração nas retas, enquanto o orvalho cristaliza e avança sem ponderar. Tentando decifrar as normas, adormecendo os medos e calando um amor antigo.
Convencida pelo cheiro de poeira que encapa as lembranças, desperto algumas letras sem rimas que, perdidas, tentam remodelar alguns anseios e pilhar outros poemas, enquanto a imaginação decifra um novo enredo e projeta um drama solitário.



Deixa eu decidir se é cedo ou tarde...

Apressei a solidão pelo olhar da manhã e um pouco mais.
Procurei abafar os auto-falantes, apagar o giz colorido da calçada e, propositalmente, perdi suas palavras.
Agora parece ser tarde.
Não de voz à curiosidade e tente enganar a teimosia.
Eu sei que você é capaz de notar os sinais, então jogue fora as chaves e abandone as razões desorientadas.
A ausência dos seus disfarces joviais torna a tarde mais segura e o silêncio do seu timbre exagerado adormece a banalidade.
Não tente roubar a cena outra vez, eu cansei da demasia manipulada e da vaidade mascarada.
Meu lugar é a poltrona ao lado da liberdade e minhas regras fazem parte da sensatez do acaso.
Não espero mais.
Vou e aviso-te que não volto cedo.

Grafitando a madrugada...

A luz do velho abajur, cor de bronze, mantém o olhar fraco e a claridade abraça o ambiente em tons amarelados.
Entre uma fresta indiscreta da cortina, alguns desenhos vão simulando toques pela parede.
As sombras, agora, jogam-se contra o gesso duro e decoram uma tinta já envelhecida.
Pela noite, as sombras seguem seus números.
Em riqueza de detalhes se deslizam com leveza, riscando o branco da parede e grafitando a madrugada com ar de graça.
Com gestos simples minha digitais mantêm a situação, dançando formas no ar. Enquanto na parede é revertida toda a cena, projetando cada gesto, cada palavra não pronunciada e cada timbre desconhecido.
Sob os ruídos calados de uma noite qualquer, as sombras traçam uma rotina infatigável e seguem entretendo a ausência de sono, projetando contos e editando histórias.

Só mais alguns outonos...


As folhas de outono seguem a rotina e vão, lentamente, deixando o pico das árvores.

Tocam os meus ombros com um gesto simples e roçam o chão com uma performance clássica.
O som de folhas secas arranhando o cimento grosseiro coincide com os ruídos de uma trilha sonora já adormecida.
Enquanto alguns galhos são desnudados pelo vento, eu procuro desculpas para estar de volta aqui.
Eu quis voltar em outra estação, mas a coragem brigou e fugiu de casa, sozinha eu não podia estar aqui.
Não é tão complicado assim, mas senti falta da cor destas folhas secas e do sabor de uma lembrança boa.
Então voltei, meio pela contra mão.
Aqui, as trilhas de outono fragilizam o olhar seco e firme, na tentativa de reinventar outonos passados.
Talvez eu, ainda, não tenha desistido de desenhar o final da história e, com o olhar encharcado, nem é difícil perceber.
Ou talvez eu apenas necessite de outras estações.
São só mais alguns outonos e eu esqueço tudo.

Uma moda da época...

Um corte duplo de cortina dança com ar de graça pelo centro da parede descascada, refletindo um toque cor de rosa fosco pela superfície transparente de uma vidraça já enferrujada.
Do lado de cá, com formatos antigos e expostos na altura de uma estante em tons de carvalho, algumas fitas cassetes são enfeitadas pela poeira.
O silêncio daqui corta, com acidez, as cordas vocais e a única expressão que resta, são algumas lágrimas reservadas, que se jogam do olhos para fora, estimuladas pela nostalgia.
Com o olhar encharcado, tento educar minha curiosidade, que abusa de algumas restrições.
Sem sucesso, acabo cedendo e descarrego algumas fitas em uma TV antiga no canto da sala.
Ali, encontro vídeos delineados em cores boas de provar.
Alguns sorrisos congelados, com sabor de saudade, definem um colorido neon.
E a fita de cetim cintilante, amarrada no alto do cabelo, desenha os traços de uma moda da época.
Uma época em que a saudade não era moda.

As palavras carregam um toque doce...

Na calada de pequenos sons, sigo embalando por um cifra difusa os pensamentos perdidos.
Lá fora, a noite já desperta com os olhos arregalados, cegando alguns gestos daqui.
Ao ruído dos passos de alguns ponteiros, saboreio um silêncio inquieto enquanto a ansiedade grita um sabor de vinho tinto.
Aqui, as palavras vão arquitetando suas formas e jogam-se como suicidas na superfície de um papel fino.
Em tempo, a inspiração chega anunciando seu número graciosamente e entra pela janela sem pedir licença.
Já banhada em ansiedade, a concentração não contém a euforia e faz sala à convidada.
Juntas, embaladas ao som de algumas canções, jogam conversa fora, trocando metáforas, concordâncias e parábolas.
Concentro no aroma de avelã que salta do balcão e atravessa a sala com um gesto clássico. As palavras, agora, carregam um toque doce.
E, no papel, vão definindo com delicadeza tímidos traços, formas e afins.

A garota da sombra...

Olhe para aquela direção que indica recusa aos seus olhos e aceite.
Repare naquela sombra que faz vulto entre as plantas rasteiras. Note como seus passos brincam com as pedras do caminho.
Tente ouvir como os batimentos são fortes. Corre de um extremo ao outro, arriscando um fôlego ainda jovem.
Observe que a coragem e a persistência ajudam a domar o tempo, inventando canções engraçadas enquanto a pretensão ensina alguns truques de direção.
Veja como a delicadeza embala novos passos de dança e a exultação faz cócegas, conquistando risos descontraídos.
Observe de longe os pequenos gestos atraírem as grandes mudanças.
Não se aproxime muito, para não correr o risco de reconhecer o timbre daquela voz e o detalhe de um sorriso já guardado.
A garota da sombra partiu, já há tempo, prometo ser feliz.
Tente não cobrar, agora, aquele adeus que não foi consumado.

De novo aqui...

Com a ponta dos dedos risco um caminho entre a poeira fosca que molda o velho retrato na estante.
Em preto e branco, o sorriso forçado da foto soa traços joviais.
Escolho um pedaço de chão para pisar, entre os entulhos de papéis amassados e amontoados em desordem.
Sem pressa desdobro algumas folhas de jornais, expostos sob a mesa e, apreensiva ,reconheço o formato dos olhos e as linhas do rosto que preenchem com graça a página de um exemplar antigo.
Reparo com detalhes as expressões daqui.
Encho o pulmão com a impressão que já respirei esse ar.
Com atrevimento minha bolsa repousa sob o sofá cor nude, enquanto tento descobrir mais de você aqui.
Vim porque senti saudade dos cartões que não chegam mais e das fotos que já não acendem o flash.
Voltei.
Estou aqui contra minha razão autoritária e a favor de uma loucura desconsertada.
Meu desejo ensaiou um pedido em palavras.
Preciso pedir você emprestado para as próximas estações, e, não aceito não como resposta.

Meu encanto por você já está de malas prontas...

Velhos esforços parecem em vão e já não tenho muitas cartas para arriscar a sorte.
Testei seus extremos enquanto você ousou manipular minhas expressões.

Acenei com vozes e gritei com gestos, mas as máscaras continuaram a moldar seus traços nada inocentes.

Onde habita a sua verdade?

Indique-me as setas e acenda as luzes. Ainda quero tentar te entender.

O desespero tem pressa e meu encanto por você já está de malas prontas.

A incerteza dos seus olhos assobiou medo aos meus ouvidos e eu chorei sem disfarçar.

A rispidez parece dar asas à sua ignorância, que, há tempos flerta com minha exaustão.

Eu cansei.

Cansei do vácuo que faz presença aqui e da ausência de respeito.

Se você optou por tapar os ouvidos, não vou continuar a gritar.

Apenas tente refazer algumas cenas e, no camarim de um teatro qualquer, desconfigure estas máscaras baratas.

E olhe, para o lado de cá, enquanto há tempo.

Ninguém disse que seria fácil...

Pintei com tons de futuro os velhos retratos e algumas páginas já foram arrancadas do espiral enferrujado.
Doei seus antigos discos e adotei os melhores romances que sobraram do seu acervo.
Apaguei os finais de meses para não ter que programar o amanhã.
Sob pressão, dei voz às razões, emudecendo velhas emoções.
Distraí o tédio mudando os canais da tv e maquiei algumas pretensões embaralhando a rotina da direção.
Inventei compromissos, menti sobrenomes e ri de outras promessas frágeis.
Rejeitei ao convite incerto dos atalhos.
Ninguém disse que seria fácil e eu paguei pra ver.
A obstinação acabou dissolvendo os velhos receios e as ilusões marcharam entre uma cegueira suspeita.
Eu só quis dar um sentido às coisas.
Aos poucos, senti de volta o chão abaixo dos pés e, num pico alto da cidade, o sol bateu no rosto outra vez.
Velhas contradições saíram sem tempo de uma despedida e novos sentidos chegaram pra nunca mais partir.

Arriscar-se é viver...

Os faróis fazem vulto pela velocidade enquanto eu abraço algumas gotas geladas de chuva, arriscando ser mais rápida que as luzes. A cor do vento é fria e minha voz tem sabor de ansiedade.
Sigo à procura de algo agradável nas tempestades que atravessam a rotina.
Corro na contramão de alguns receios e em direção de onde se arriscar é viver. Ouvi dizer que lá, ensina-se a transformar a queda em um passo de dança e a ilusão em uma realidade crível.
Equilibrando as lágrimas que insistem em atirar-se dos olhos para fora, reconheço algumas faces entre as gotas de chuva.
Há poucos passos, vejo de longe a desistência de alguns e o cansaço de outros. Sem sucesso, tento entender algumas razões que soam incompreensão.
Alimento os ensejos à base de persistência e pretensões. E tento domesticar o coração, equilibrando a saudade e o medo.
Às vezes, o silêncio dos ruídos causa espanto, então, desconcentro a atenção dos ponteiros contando algumas piadas sem graças e o tempo parece passar.
Não encontrei ninguém para me dar a mão quando o farol acenou as luzes verdes, então tive que atravessar a rua sozinha.
Ao ritmo de algumas cifras, pareço cair menos e dançar mais. Ou, talvez, eu apenas tenha aprendido a transformar a queda em um passo de dança.
Em meio a um passo e outro, continuo estreitando os laços entre a ilusão e a realidade, afinal, arriscar-se é viver.

Os bastidores da vida'

Há tantas milhas, minha preferência optou por perseguir algumas intuições e, sem questionar, eu parti.
Aqui, algumas nuvens têm formato de cogumelo e a claridade, como vaga-lumes que faz da noite um dia, apresentou-me os bastidores que embalam o sentido da vida.
Vagando entre algumas instalações improvisadas, pisei nos fios jogados pelo chão e errei a porta de algumas salas.
Serviram-me entradas e chazinhos, saboreei do doce ao amargo, em um único piscar de olhos.
Diverti-me com a Curiosidade que, sempre tão impulsiva e abusada, apostou um pik-esconde com a Loucura.
Flagrei a Dúvida perturbando a decisão e a Influência pressionando as escolhas.
Eu não soube como agir diante de uma discussão entre a Emoção e a Razão. Mas, sem fôlego para debater, eu deixei as emoções para depois e trouxe a razão à tiracolo.
Observei com desconfiança, enquanto o Poder retocava a maquiagem autoritária, a fim de camuflar o incerto e os tropeços.
Há tempos, a Insistência convenceu a Vontade e, juntas, embebedaram o Medo intencionalmente. Sozinhas arriscam-se por aí, enquanto o medo adormece.
E é aqui que as intuições, dirigida pela pressão dos bastidores, vão moldando o sentido dos meus dias e colorindo os anseios.

Peça de teatro...

Arrisque-se para além dos extremos.
Experimente aprisionar as indiscrições até amanhã e deixe para depois as palavras baratas.
Eduque os ponteiros do relógio e brinque o tempo, seja jovem além de alguns fios grisalhos.

Deguste não ser sempre politicamente correto e saiba enquadrar-se às normas, quando preciso.
Procure não deixar rastros pelo caminho, para não facilitar a visibilidade da solidão.
Não deixe de apresentar-se por receio de não ouvir os aplausos.

Cante uma canção para adormecer os insultos.

Brigue por um lugar na primeira fila e saboreie o desfile de escolhas para sua vida.

Vá além e, à seu tempo, contracene com garra e delicadeza. O teatro sempre esteve cheio e é preciso ser gente grande quando as cortinas se abrirem.
Inale o aroma dos dias e saboreie as emoções como se fossem uma única peça de teatro.

Esteja atento para os improvisos, pois ao contrário de uma gravação qualquer, a vida não pode ser editada. E, pior, não há sessões de reprise.

Que a brisa nos carregue...

Recuo alguns passos e abro caminho para a brisa, que passa por mim embaraçando os fios de cabelo e destruindo pequenos montes de areia. O cheiro de sal e mar deslizam pelo vento e beijam minha face com pretensão.
Meu juízo brinca abusadamente com o medo. E, sem pensar, minhas ideias se jogam para um banho de mar.
Sem luzes para clarear o que não é para ser visto, sem carros para desenhar um caos urbano e sem você para me dizer o que fazer, eu deixo as emoções se arriscarem pela imensidão negra que define a noite deste lugar.
Aqui, eu sei, posso ser quem eu finjo não ser lá fora. Então ouso gritar contra o nada, chorar algumas lágrimas reservadas e rir das loucuras emanadas de algumas mentiras.
Em uma troca de pensamento, acabo reconhecendo os traços que me vem à mente. Não ignoro, afinal, já te ignorei demais.
Lá fora, a rotina e os outros me ditam preceitos e te esquecer vem como item principal.
Só quero que saibas que, longe de tudo, ainda recordo-me dos detalhes e, quando quero, deixo a saudade contar-me as novidades sobre você.
Só peço-te silêncio, pois minha inocência adormeceu para nunca mais acordar.
Agora, o sal começa a cegar meus olhos, que sem forças acabam fechando-se. Deixo a brisa tapar meus ouvidos e as ideias desajustadas me carregam de volta para a beira da água.
Entre uma quebra de onda e a formação de outra, uma borda salgada vai tocando de leve a ponta dos meus dedos e deixo-me levar nesse ritmo até o nascer do sol.

Só queria saber...

Na efemeridade de alguns sentimentos continuo descontraindo os ponteiros do relógio e, pela tintura escura da noite, embriagando a solidão com algumas garrafas de vinho.
O silêncio ensaia alguns tons afinados com minhas loucuras nada sóbrias.
Planejo uma pirraça e expulso pela porta da frente a solidão, que sem pedir licença insiste e entra, dessa vez, pela janela.

Exausta desta companhia forçada, desrespeito o avanço do tempo e saio como a qualquer hora. Competindo os passos com a sombra refletida no estreito da calçada, vou costurando os meios fios das ruas.
Vazia de pressa desenho algumas esquinas cheias de nada.

Começo a suspeitar do silêncio deste lugar, onde todos dormem e as luzes descansam apagadas.
Com receio vou arriscando e engraxando a sola do sapato por ruas que disfarçam de mim qualquer segredo.
Contorno algumas curvas suspeitas e sigo retas desconfiadas, tentando desvendar o que ainda não sei. Já é tarde e eu só preciso saber. Saber das respostas que se encaixam em perguntas já empoeiradas.

Já no fim de noite, meu cansaço tem sabor de embriaguez e minha vontade tem os desenhos do seu rosto.
Mas, talvez eu devo me conformar com finais de histórias interrompidos e maquiar algumas perguntas órfãs de respostas.

Já é tarde, o melhor é voltar pra casa.

Apaixone-se...

Ele ousou ouvir algumas palavras doces que ela mantinha em silêncio. Ela foi além, experimentou ler o jogo de letras que ele costumava rascunhar entra a superfície de alguns papéis amassados. Ela disfarçou estar louca e tentou enganar a vontade desconsertada.
Ele insistiu na insanidade, riu do disfarce e declarou-se a ela.
Ela arriscou substituir o juízo pelo absurdo e o acompanhou até o outro lado.
Não houve pedidos de espera, nem promissões. Ouvir a farsa de velhas promessas seria tolice.
Ela jogou as normas para amanhã. Ele fingiu não ouvir os outros. E, juntos, fugiram durante uma estação do ano.
Ele a ensinou respirar as horas sem ter que pensar nas consequências. Ela apresentou a ele alguns sentimentos medidos.
Os prazos não foram subestimados e as horas desaceleraram.
Seus passos se desajustaram.O desejo consumiu algumas palavras e confundiu os sentimentos novatos.
Ele apaixonou-se. Ela morreu de amor.

Faz de conta...

Há de tudo em todos os extremos. Há amores nascendo do aroma tímido das rosas e há descrença nutrindo-se do desabrochar pálido de algumas flores apodrecidas.
E aqui, enquanto as considerações tiram um cochilo da tarde, eu faço de conta. Tento maquiar as razões absurdas e saciar a loucura com algumas promessas invertidas.
Um mostrar de dentes programado desenha o sorriso ilusório de um dia inteiro. Misturo algumas tonalidades que facilitam a perfeição e, artificialmente, esquecem as linhas cansadas que traçam minha face.
Faço de conta que formalidades não me incomodam. Faço de conta que noites mal dormidas não pesam as horas de trabalho. Faço de conta que a solidão não me aflige quando chego em casa e a encontro a esperar-me para o jantar.
Faço de conta ouvir vozes demais neste silêncio, abraços calorosos, sorrisos abafados e gargalhadas incontidas seguidas de alguns flashs.
Mas no fim da noite, deixo de fazer de conta.
Corro para o espelho suspenso no azulejo claro do banheiro e, pelas linhas do reflexo, vejo a exaustão afogada em lágrimas.
Embriagada, eu deixo de fazer de conta. Já bebi demais.

Fui ser feliz...

A claridade esboça os primeiros traços da manhã que apontam ainda distante. O nascer do sol faz seu número em uma apresentação impecável e o novo dia se exibe com uma delicadeza clássica.
A forma azul da manhã contrasta com a grama verde de aroma fresco, que insiste em fazer cócegas na sola do pé, que descalços segue esmagando uma pequena trilha.
Por meio minuto lembrei-me de você. Fechei a porta sem consentir alguns rastros e esqueci de rascunhar pequenas palavras tortas e jogá-las ao lado do abajur antigo, cor de pêssego, apenas anunciando a você minha ausência.
E antes que você abra os olhos e encontre pela casa apenas o cítrico aroma de um velho perfume meu, eu só quero te avisar que hoje não volto para o café da manhã. E amanhã no jantar, minha ausência será sua convidada de honra. Não volto mais nem para uma xícara de chá. Não sinta minha falta ou poderá estragar tudo.
Sem medir a dimensão das consequências e a peso das normas, saltei por ruas desconhecidas em contramão aos passos apressados da poeira.
A ousadia, em um grito de ânsia, insistiu em segui-la pela cegueira de algumas ruas.
Sem pensar, experimentei sorrir além de uma mera programação e dar asas ao momento como se não houvesse fronteiras.
Então, trocamos confidências e achamos graça das luzes apagadas enquanto todos dormiam. E no fim da noite, ao ruído de algumas palavras doces, brindamos o futuro.
Agora, pela manhã, deixo tudo.
Estou indo embora e levo-a comigo. Ela, a quem posso chamar de felicidade.
E pensando bem, "Fui ser feliz", talvez fosse um belo rascunho para você encontrar depositado ao lado do abajur.

Agendei te esquecer...

Maio já está no final. Recordo-me de que agendei te esquecer em Maio retrasado e os resultados foram frustrantes.
Ainda adiciono os passos com a solidão e divido a diferença de nossas sombras. Finjo redescobrir cada canto da casa, para não parecer insana em andar ansiosamente pelo breu que cega esses cômodos vazios.
Dissolvo minhas lembranças em um copo submerso de saudade e acabo embriagada com a sua voz, seu toque e seu cheiro. Atiro-me sem culpa, de braços abertos para o nada e sinto o veludo grosseiro do sofá esfolar minha face.
Ouço passos embalando algumas notas musicais em um ritmo lento e gracioso. Tateio, no limite dos meus braços, as sombras de formas arredondadas amontoadas no canto. Suspeito ser as almofadas cor de amêndoa. Então noto que ela ainda não veio deitar-se.
Lá fora, as folhas chacoalham a favor do vento e, aqui, a solidão continua a dançar entre um tapete e outro da casa.
De repente os passos aproximam-se da sala, ela passa por mim e, como um sussurro, anuncia uma nova noite de insônia.

Além da neblina...

Enquanto as folhas dançam o ruído de um inverno ríspido, vou nutrindo o descompasso da poeira, no percurso de uma trilha qualquer. Uma trilha esquecida, já que, lentamente, está perdendo a privacidade dos seus limites pela grama que, obstinada, insiste em crescer entre as beiradas de um cimento antigo.
Em contramão a neblina se exibe graciosamente por alguns bancos abandonados, deixando uma camada esbranquiçada sob a grama mal cuidada.
Vou seguindo uma quase trilha ao sabor do tempo e, no embalo desse vento cinzento, desenhando um ar colorido para além da bruma densa, que limita a visão dos meus olhos.
Tento arquitetar algum traço jovial que pode haver do lado oposto à densidade. E quem sabe, por um grande acaso, eu encontre você perdido no verde saudável da grama e abaixo das folhas posicionadas entre os galhos. A ansiedade grita impaciente e a pressa me faz correr. Correr depressa para descobrir o que há além da neblina.

Não deu tempo de fechar os olhos...

A madrugada parece ter cochilado e as horas aqui não passam. Tudo escuro e nada ouço além do tic tac impaciente do único relógio da casa. Perdida em meus pensamentos incertos retorno o tempo e até avanço alguns anos. Refaço ilusões perdidas e arquiteto outras expectativas.
Não suporto fechar os olhos. Ignoro as cobertas frias e nada parece mais animador que admirar o vazio pela janela. Não há pessoas, não há cães, não há luzes e não há você no asfalto seco lá fora.
Surpreendo-me com o rugido asco que invade o ambiente e com um sabor amargo roça minha nuca. Fujo para debaixo das cobertas novamente. Eu não quero de volta a companhia da solidão, que não parece se importar com a minha rejeição.
Escondo-me, sem sucesso, por entre os lençóis e, logo, ela me alcança. Resta-me, então, acomodar o rosto no travesseiro e encarar de frente a solidão.
Juntas, tentamos decifrar o final de algumas histórias que não nasceram para terem finais.
Às quatro da manhã ainda alimento alguma memória e volto com desconfiança até você. E já não encontro mais os livros no lugar.
Penso se eu ainda estivesse aí, você cantaria uma canção para eu dormir? Mudaria a estante de lugar ou me contaria de novo uma história inventada?
Eu sei, se estivesse aí, o timbre das músicas seriam outros, não existiria o tic tac do relógio e o fim da história teria outro ritmo.
Mas eu quis perder o caminho de volta. Foi proposital quando fechei a porta e joguei a chave do outro lado da cidade.
E, quando resolvo me conformar com sua ausência, o dia amanhece e percebo que não deu tempo de fechar os olhos e dormir.

Despedidas são incompreensíveis...

Não consigo aprender a soletrar um adeus ao pé do ouvido e é tão difícil aceitar o último abraço.
Desisti de tentar compreender essas despedidas que alimentam minha rotina.
Que espécie de dor é esta que sufoca a minha voz e limita os gestos após um último aceno?
Eu não posso compreender estes sorrisos embaraçados e procuro ignorar o sabor ácido que transborda dos olhos e encharcam minha face.
Quero tudo daqui e de lá, juntos em um só tempo.
Quero o cheiro doce daqui e os livros empoeirados de lá.
Ficar aqui é viver sem ter planos e tomar chuva sem sentir frio. Mas, melhor ainda é ir embora e poder voltar quando eu quiser.
Quero carregar o carinho que preenche o inverno daqui, enquanto vôo a liberdade de lá.
Queria poder dar férias aos ponteiros do relógio, porque, quem sabe assim se perdiam de mim e se esqueceriam de exclamar que é chegada a hora de partir.
Mas eu ainda não encontrei as chaves que abrem aquele rústico e velho relógio pendurado no centro da parede.
Agora, os ponteiros alcançaram a minha hora, preciso partir. Eu vou, mas ainda volto.

Eu sempre quis!

Tão longe e tão perto.
Persigo as horas através do disfarce denso das noites, seguindo a poeira de alguns rastros que julgava ser seus.
Me esforcei, sem sucesso, para esquecer os seus traços de garoto.
Sua voz, seu toque e nosso desejo ignoraram os códigos e eu quis ainda mais você.
Confesso, basta esse sorriso escondido no canto da boca para eu esquecer os erros e ignorar minha resistência a você.
Mas, pensando melhor, dane-se os outros. Não fico bem sem você aqui. Preciso beijar seus olhos e olhar sua boca.
Você me trouxe algumas pistas para ser feliz.
Então, arraste as traduções para longe de mim e oculte as normas daqui.
Respiro o tempo à procura de palavras para decifrar você, não penso em nada.
Você desconcentra o foco das minhas ideias e me faz trocar as letras.
É diferente, meus olhos decifram apenas seus traços ingênuos e meu silêncio grita pelo timbre da sua voz.
Cansei de simular, eu quero você aqui. Eu sempre quis.

Siga as setas

Siga aquelas setas. Vem comigo.
Deixa eu te arrastar do obscuro que invade este lugar frio e medíocre.
Toque minha mão, entrelace seus dedos aos meus e vamos para o outro lado, onde a felicidade promete saciar o prazer e alimentar o tédio das horas.
Deixa.
Deixa-me sussurrar algumas palavras e confessar a você meus receios. E vai descobrir que meu maior medo é o abraço irônico da saudade que, com um sorriso zombador, ameaça os meus dias.
Deixe-me dar asas a ousadia, te roubar um sorriso modesto, ignorar as etiquetas e, salivando um beijo teu, provar a minha vontade de você.
Deixe as promessas para amanhã de manhã e vamos ascender alguns sonhos roubados.
Não me ensine o caminho de volta, quero me afogar nas leis da liberdade e desafiar as teorias que sustentam a minha coragem.
Perca o medo destes trilhos incertos e dos trajes improvisados.
Chegou a hora de arriscar um salto e pular do trem, depois, as horas ameaçam pesar a consciência e pode ser tarde demais.
Deixe tudo porque eu não vou sem você.

Reinventei você pela estrada

A neblina gélida alcança a constância da velocidade e fere o ruído dos pneus com a excitabilidade de um toque.
As gotas que se jogam contra o vidro do carro, aos poucos, vão delineando partículas de gelo e ganhando novas formas, pequenos flocos de neve brincando entre alguns galhos secos.
Aqui, ausente das suas ilusões eu prossigo pelas curvas. Peguei a estrada há muito tempo, quando descobri que morrer por amor estava fora de moda.
Mas agora, no silêncio de uma longa estrada coberta pelo gelo, delineei seus traços ingênuos em minha mente. Permiti-me errar por meio segundo, ao pensar em você de novo.
Em segredo, eu desejei um beijo roubado e um sorriso emprestado. Sua presença e seu calor junto ao meu.
Foi bom reinventar seu toque. Eu quis e a vontade já passou.

Não demore...

A claridade entre as frestas da janela me despertou cedo demais para a rotina e brevemente tarde pra você. Desci os degraus da escada com os passos indiferentes, te procurando pelos cantos da sala. E só o que vi, foi sua jaqueta velha e surrada jogada entre os jornais espalhados e livros amontoados. Caminhei até a cozinha, com a preguiça sussurrando palavras frias ao pé do ouvido. Com os pés descalço dançando por este piso frio, o caminho até uma xícara de chá pareceu infinito, então, aproveitei esse momento para pensar que na verdade eu não me importo se não tenho você aqui, agora. Ao tempo da madrugada, inalei seu cheiro e senti seu toque, enquanto lá fora a lua sorriu pra nós, apenas isso me basta.
A surpresa foi encontrar o chá ainda morno e ao lado, sob a mesa, um bilhete dobrado em dois, com pequenas palavras tímidas. Só então, quando decifrei o 'te amo' do papel, me dei conta que sua jaqueta no canto da sala seria apenas um disfarce para você voltar aqui. E hoje, por você, eu deixo a porta aberta. Não demore.

Foge comigo?

Aqui, longe da balbúrdia caótica e das influências alienadas do mundo lá fora, me sinto tão livre, tão liberta, tão viva e tão impulsiva. Sinto-me segura para esquecer o resto. Essa paz absoluta me consome sem medir intensidade. Pode acreditar, estou respirando aquele ar que delineava meu velho sonho. Aquele que você desacreditou.
Danço sob uma chuva quente de primavera e não tenho relógio no pulso, para não sentir o tempo passar por mim. Vem você também, deixe o ritmo dessas gotas molhadas tocar seu corpo. Esquece esse roteiro que te promete uma vida sem defeitos. Olhe no brilho profundo dos meus olhos e tente ver minha felicidade. Tente sentir comigo esse momento bom. Dê-me sua mão, ainda temos tempo. Está fora de moda resistir a tanto, escute a minha voz e deixe-me ensinar você a dançar e esquecer o mundo. Foge comigo agora.

Cansaço

Eu cansei. Eu cansei da sensatez daqui. Cansei da rotina daí e das expressões que me pressionam. Eu cansei de olhar no espelho e ver um sorriso programado para fingir que tudo é perfeito. Cansei de esconder esfinges e abafar o choro.
Estou exausta de camuflar meu sentimentos e domar a saudade.Eu cansei de fugir de casa, de brigar com a madrugada e tentar, sem sucesso, espantar a insônia. Eu cansei de procurar sua inocência em outras faces e desisti de comparar suas promessas com estas flores que surgiram na minha porta, ignorei-as no canto da sala sem nem me importar em decifrar as letras do cartão. Sem as cores de antes e o aroma inconfundível as flores não tem mais valor.
Chega! Eu cansei de procurar você nas curvas e encarar os rostos que passam por mim. Afinal, ninguém se parece a você e eu sei que essa saudade enferrujada já não acordará mais. Eu me perco e agora é já tarde aqui, a lua acaba de ingressar para mais um expediente. Resta-me deitar ao lado da saudade e deixar a noite nos levar. E que um dia, o sol nos desperte bem cedo.

Selinhos =D

Meus agradecimentos a:
Jade Cavalhieri [
Pateticamente Incorreta ]
Drika Sales [
- In my world.⋆ ]

adorei! =D


O ontem já partiu

O ontem já é saudade. O amanhã esperança.
Eu troquei a última noite pelo dia, com uma insônia forjada. Aproveitei meus olhos abertos e sacudi tudo aqui, expulsei a poeira para fora de casa. Troquei minha velha calça rasgada, joguei fora suas cartas, inovei o ritmo da música e o timbre das minhas palavras.
Descobri que meus sonhos ainda gritam e que bons amigos ainda vivem por mim. Agora posso manter-me ausente das suas promessas medíocres.

Faz sol aqui e lá fora o breu da noite se mistura aos ruídos de uma coruja.
Eu renovo o giz de cera colorido da escrivaninha, para não esquecer de colorir os meus dias E descobri que o contraste desse colorido quem nutri são meus amigos.
Então, eu posso enganar as horas e suportar a dor, posso trocar tudo e reaprender, com a alma em pedaços, a viver sem meus maiores prazeres. Mas, não suportaria que tirassem de mim a tonalidade dos meus dias, eu não suportaria viver sem grandes amizades.

Novo selo =D

Meus agradecimentos a Rodolpho Padovani - http://aartedeumsorriso.blogspot.com/

Regras
-Diga dois defeitos e duas qualidades suas:
defeitos: ansiedade e orgulho
qualidade: persistencia e otimismo

-Indique o selo para seis blogs:
Um dia destes...
Adolescencia , sentimentos e verdade .
32 Dentes
Coisas que eu sei...
Só enquanto eu respirar
A preto e branco

Tudo que já tive

Com o aroma de grama encharcada o sol se põem timidamente atrás destas nuvens carregadas. Olho tudo ao redor, há prédios e casas. Há crianças rindo e bebês chorando, casais iludidos e namorados apaixonados. Fico a observar essa multidão que passa alimentando a contagem das horas.
E de repente algo me chama a atenção. Um senhor de cabelos grisalhos e pele cansada ensinando o neto a andar de bicicleta na beira do lago.
Isso me lembrou tudo o que já tive um dia, infância, bonecas e inocência. Uma corrente nostálgica me arrasta para o ontem. Eu posso notar a velocidade com que os dias passaram e sinto o toque da responsabilidade no peso de uma lágrima que marca meu rosto. Ainda tão menina para um histórico adulto. Recordo-me dos invernos rigoros e dos verões inesquecíveis, das amizades que duram até hoje e das amizades que duraram apenas algumas horas. Há, ainda, as cicatrizes de um revés que já apaguei daqui.
Ainda ontem eu firmei a sola dos meus pés no chão e dei um salto, acordei e já era hoje. O mundo adquiriu novas formas de repente. Ganhei e perdi, reaprendendo pequenos gestos humanos e conquistando a paixão pela vida.
Pisco com o olhar pesado e aqui já faz noite. E, de novo, as horas passaram.Surgem outras pessoas, outros avós e outros netos. E eu sei, que um dia vou lembrar-me deste parque, desta grama e desta noite sem luar. E mais dias virão.

Mais selinhos =D

Meus agradecimentos a Taynara [ http://trueslove.blogspot.com/ ]



Meus agradecimentos a: Filipe Costa http://lipeh-costa.blogspot.com/ Drika Sales http://drykasales.blogspot.com/ Carla Silva http://carlinhamenina.blogspot.com/ Ana Tereza http://anateresacdp.blogspot.com/

Obrigada a todos! =D

Lá onde mora a felicidade

Já em tempo, a noite dá o ar de graça e impaciente saio em meio à poeira, vagando pelas ruas de um lugar afastado. E estes faróis que surgem de uma encruzilhada distante e, ao ritmo dos meus passos hesitantes, aproximam-se. Para onde vão estes carros? O que há neste caminho além da brisa fria, que sem graça toca de leve minha face.
Sem pressa continuo alimentando minha curiosidade e contando os passos, um após o outro. Então, reparo que a lua já tem um novo formato. Ainda ontem riscava o céu com um tímido traço em curva, hoje a lua preenche o vazio dessa imensidão negra com uma bola maciça.
O desejo exagerado de ver e saber além me apressa. O que pode haver do outro lado, será que é lá onde mora a felicidade? Ainda olho para os lados e nada posso ver. Está tão escuro por aqui.
Incomoda-me parecer a única caminhando diante desta vitrine de estrelas. Teimando e sustentando com inquietação os meus passos, me pergunto se já é tarde demais, pois aos poucos o fluxo de faróis diminui.
Eu não quero parar. Quero caminhar até lá e alcançar o que, daqui, os meus olhos não podem. Sem sucesso, brigo com as horas, na tentativa de enganar o cansaço.
Os carros já não fazem poeira no asfalto e eu perco a direção do vento, que me levaria até onde eu julgo estar a felicidade.
Isolada do mundo e vencida pela exaustão, resta-me o caminho de volta. O caminho pra casa.


Meus agradecimentos a Jade ;D

http://pateticamenteincorreta.blogspot.com/
Meus agradecimentos a Sílvia =)
Obrigada a todos os seguidores e a todos os leitores pelo espírito crítico nos comentários !!!


repassando selo:
http://aartedeumsorriso.blogspot.com/
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http://limiarsentidos.blogspot.com/
http://comoeulevoavida.blogspot.com/
http://clarissalamega.blogspot.com/

Muito obrigada ;D
Obrigada pelo selo Joana =D

As regras:

-exibir a imagem do selo no blog
-exibir o link do blog que você recebeu a indicação
-escolher 10,15 ou 30 blogs para dar indicação

-e avisá-los

Blogs:

http://quandoeumechamarsaudade.blogspot.com/
http://viviansbrussi.blogspot.com/

http://adolescenciasentimetoseverdade.blogspot.com/

http://allthatsamba.blogspot.com/
http://pudescritora.blogspot.com/
http://alemdamaascara.blogspot.com/
http://silvinhahba.blogspot.com/

http://palavraemvao.blogspot.com/
http://desirre-momentos.blogspot.com/
http://icecreampeach.blogspot.com/

Estes são apenas alguns dos muitos blogs bons que lembrei =)

Já me perdi assim

Um fim de tarde lilás e deixo-me levar pela graciosidade duvidosa que reflete através destes olhos ingênuos e desconhecidos. É estranho sentir seus dedos entrelaçando os meus. Sem pensar, eu deixo. O seu sorriso rouba meu juízo e sua presença brinca com o meu desejo, que incendeia com o calor de um abraço. Meu desígnio é reciclar este momento em uma caixinha a sete chaves.
O silêncio de nossas palavras e o vento apaixonado que soa delicadamente à face alivia a saudade do que ainda não tive.
Um gesto sutil e seu lábio se encontram ao meu, já impaciente de desejos. Minha sensibilidade dança equilibrando-se em uma corda fina.
Me dê a sua mão. Me dê a sua boca. Deixe-me sentir esta intensidade que me toma sem pensar. Deixa a ilusão alimentar o instante.
Mas depois não me peça e não me faça promessas. Eu não quero ouvir e não vou acreditar em suas palavras. Não revele seu nome e estrague tudo, eu posso prever futuros erros.
Este momento basta para eu me perder em você e tornar-se inesquecível. Eu lembro, já me perdi assim.
Meus agradecimentos a http://inconstantbutterfly.blogspot.com/

Regras:

1) Por que você acha que mereceu esse selinho?
Escrevo com a sinceridade das palavras e procuro brincar com a criatividade, na perspectiva de que os leitores se identifiquem e sintam-se atraídos pelo texto.

2)Na sua opinião qual post de seu blog é merecedor de um prêmio?
O texto abaixo rendeu ótimos comentários e considero um dos melhores.
http://graf-fite.blogspot.com/2010/04/vende-se-saudade.html

3)Do blog que te indicou, o que mais te agrada? Ele merecia o blog de ouro?
O blog da Priscila é lindo, com uma combinação perfeita de imagens e ótima qualidade de textos. Com certeza ela mereceu esse selinho.

4)Passando para:
Coisa de menina
Blog, coffe and cigarretes
Liddell
C. costa

Vende-se saudade

A manhã me despertou com uma leve suspeita de que a solidão rondou meus sonhos e vigiou a madrugada. Cobrei de mim sensatez e fechei os olhos para não sentir a ausência de uma companhia. E a solidão, sempre tão fiel e insistente, invadiu meu quarto com a essência de sua frieza e entrou sem pedir licença. Vasculhei caixas à procura de cartas e os meus olhos ardiam enquanto eu admirava os retratos na parede, sempre tão cheios de cor, luz e contraste. O que posso fazer com tanta saudade? Talvez jogá-la pela janela ou vender em um mercadinho próximo? Sem alternativas, me rendo e a saudade transborda aos olhos, posso sentir as lágrimas que vão trilhando caminhos pelo rosto gelado. Faz frio aqui e sozinha eu vago pelos cômodos da casa. Pra onde foram todos? Onde estão os abraços, as companhias, as festas e os sorrisos? Onde você está, que nem em cartas eu encontro mais. O telefone no canto da sala, que não toca mais, já se tornou apenas um enfeite. Restam-me, ainda, as emoções encontradas nos livros de romance, que estão espalhados por todo o canto da casa. E se amanhã eu não aparecer nos jornais e não cumprimentar o porteiro com um 'bom dia', saiba, eu morri de saudade.

Romper com as regras

"É impossível lutar com o que a alma escolheu"
(Sartre)

Diante deste projeto inacabado de vida, me pergunto quem se importa em ser diferente?
Fica evidente, os caminhos da vida não são trilhados por elementos banais. Não se define uma meta, por exemplo, como quem escolhe entre o cinza e o azul de uma gravata qualquer.
Então por que não impor autonomia às escolhas? Por que não optar pela liberdade e pelo risco? Quem vai se importar e definir meu limite? Qual o sentido de seguir as regras?
Gracioso seria sair ao vento sem a necessidade de um destino, gritando e dançando o ritmo que EU julgo ser o certo. Não me peça para aceitar estas regras hipócritas que vejo lá fora.
Como já dizia Sartre: "O homem é o único mestre dos seus próprios atos e do seu destino".
Sendo assim, deixo que a razão em companhia dos desejos arquitete silenciosamente, planos que podem desnudar as regras e ignorar as etiquetas. Eu cansei disto. Só quero viver meu momento. Deixe-me ausentar-se das regras.

Acendi a luz

Ofusquei os seus erros com os traços de uma perfeição que nunca existiu. E tudo o que foi escondido atrás da sua camuflagem cômica só transpareceu quando acendi a luz. Nunca tive medo do escuro e de você. Mas o descompasso das horas e os seus passos incertos me forçaram a tatear as paredes negras, até encontrar uma luz. E derepente, com minha visão de volta, tudo ficou tão claro.
Eu esperei canções, desejei carinhos e ansiei voar. Belas ilusões que foram despertas com a estupidez de suas palavras.
Tire suas mãos de mim e não iluda seus pensamentos em vão. As juras de uma paixão passageira já não têm valor. Vou indo bem sem você e quando quero ainda lembro do nosso plano para conquistar o mundo, na inocência de nossa pouca idade. E mesmo longe, sei que de mim você não se esquecerá.